Evangelho no Lar
Pode parecer insistência retomar temas básicos da vivência espírita, como o Evangelho no Lar. Mas não é. É necessidade mesmo. Entre saber e praticar, entre ter noções e vivenciar vai às vezes uma longa distância. Isto não é nenhuma crítica, é simplesmente constatação. E revela o quanto somos ainda humanos, demasiadamente humanos, no trato das questões mais profundas, aquelas que dizem respeito ao espírito imortal que somos.
O caso é que as reuniões do Evangelho no Lar, nos lares espíritas, sofrem das intermitências do entusiasmo, isto é, alternam-se períodos de bom ânimo, perseverança, alegria, com aqueles de desânimo e quase indiferença, quando por vezes cumpre-se apenas um dever assumido (e quando assim age, diga-se de passagem, ainda está bem). Por vezes, em casos extremos, e não raros, encerra-se simplesmente as reuniões, por motivos diversos, na maioria das vezes injustificáveis…
Somos então obrigados a fazer esta reunião semanal? Bem, se por bons motivos pudermos nos abster das vantagens de se realizar o nosso Evangelho no Lar, não há nenhum problema. Qual é a família, no entanto, que pode dispensar:
A oportunidade de reunir-se para a troca de idéias, a discussão dos problemas pessoais e familiares, a comunhão de pensamentos mais elevados, sob a inspiração da Espiritualidade Superior?
A higienização do lar com nossos pensamentos e sentimentos elevados, permitindo facilitar o auxílio dos mensageiros do bem?
A modificação do nosso padrão vibratório dos pensamentos e sentimentos, limpando as mentes congestionadas de criações inferiores, agentes da enfermidade e dos desequilíbrios?
O estudo e meditação do Evangelho, para que suas lições sejam mais bem compreendidas, sentidas e exemplificadas?
Os momentos de paz e de compreensão que ele nos oferece, proporcionando-nos uma vivência mais tranquila?
Em sã consciência, ninguém pode alegar que tudo isso seja dispensável em um lar. Ou que o CULTO não possa ter uma parcela de contribuição em nossa paz, equilíbrio e saúde…
Falarei sobre a reunião, como faze-la, fatos que ocorrem, e como nos comportarmos perante eles, e no final, caso tenham alguma colocação, conversaremos a respeito:
COMO FAZER A REUNIÃO DO “CULTO DO EVANGELHO NO LAR”.
Escolher dia e hora da semana, consultando previamente os familiares, para que seja possível a presença de todos, ou dos que desejam participar…
A participação deve ser espontânea…, ou seja, respeitarmos as opiniões, as religiões, dos nossos familiares, ou aquele que por algum motivo não queira participar…
Observar dia e hora escolhidos, para garantir a assistência espiritual…(é um compromisso que assumimos, e os Espíritos Superiores não falham, porém, não sabemos até quando eles insistirão em nos assistir, caso esquecermos, trocarmos dias, horários, atrasarmos…)
Colocar sobre a mesa uma jarra ou garrafa com água potável, para ser fluidificada (a equipe médica do Dr. Bezerra, trabalhadores abnegados, na oportunidade solicitar a fluidificação da água que já deverá estar sobre a mesa e no encerramento depois de todos beberem, retornar esta água para o filtro do lar…)
Então escolher um ambiente do lar, não importando qual, mas sim, de acordo com o número de pessoas, sentando-se ao redor de uma mesa, ou quando sozinho, buscar o ambiente que não incomodará os demais…
Fazer a prece inicial, simples, breve, objetiva, de maneira que o coração fale mais que as palavras. ( cada semana faz um membro da família)
Ler um pequeno trecho do livro O Evangelho Segundo o Espiritismo, aberto na seqüência ou à vontade, e ler até onde se tornar compreensível a mensagem.
Recomenda-se ler em seqüência, começando da primeira página, incluindo o prefácio, introdução e notas, porque também trazem esclarecimentos importantes.
Terminada a leitura devem ser feitos comentários sobre a mesma, que facilitem a sua compreensão e sua aplicação na vida diária… (aqui é muito importante, não se alongar, não sair do texto, e não abordar testemunhos diversos)
O membro da família que fez a preparação indica um familiar para fazer as vibrações e o encerramento…
Fazer as vibrações emitindo pensamentos e sentimentos elevados em favor do lar e cada pessoa que nele convive… As crianças da família, aos enfermos, e para nós mesmos, (lembrar sempre que estamos fazendo uma oração, uma cúpula de proteção para o nosso lar, então restringir os pensamentos e sentimentos somente para aquele local…)
Prece final, simples, breve e objetiva…
Encerrar com humildade, distribuir a água fluidificada para todos os presentes beberem e conservar a paz e a tranqüilidade por toda a semana…
Tempo do Culto deve ser de 20 a 30 minutos…(a espiritualidade tem outras tarefas e não podemos nos alongar, ou sairmos dos objetivos do Culto)
FATOS QUE OCORREM
Orientação para o caso de haver crianças no lar: as crianças só devem participar de O Evangelho no Lar, quando tiverem idade ou mentalidade suficientes para acompanhar os trabalhos, sem inquietações ou cansaço. Elas podem e devem colaborar ativamente, segundo sua capacidade, quer nas preces, quer nos comentários.
Casais que começam o Culto com vinte anos de atraso, e não participam os filhos com esta idade… (assumamos que cresceram sem que lhe dedicássemos qualquer cuidado ao problema da fé…, então aos poucos vamos mostrando a eles a necessidade desta comunhão pelo bem maior da família).
Uma visita inesperada ou que se alonga por vários motivos, uma chuva forte, a carona que não chegou, enfim, não devemos modificar o horário, podemos sim convidar, proporcionando às pessoas as bênçãos da oração.
(Caso as pessoas se recusem em participar peçam que aguardem e vão fazer a reunião… recomenda-se naqueles momentos desligar os telefones )
Quando a visita aceita de participar, e menciona algum assunto inoportuno, por desconhecer o comportamento que empregamos, alguém sem censurar, trás a conversa para o Evangelho, para o tema… Quando encerrar auxilia a pessoa nas suas colocações…
Alguém da família ou convidado, vem sentindo alguma enfermidade, sentindo um quadro obsessivo. O que podemos fazer? Incluir essa ou esse irmão em nossas preces, rogando a ajuda dos samaritanos, médicos e enfermeiros do espaço para visitar essa criatura. O que não podemos fazer? Alguma doutrinação direta, dentro do nosso lar, atraindo os obsessores O Evangelho no Lar, não inclui o tratamento dos desencarnados infelizes. São tarefas a serem realizadas e de responsabilidades dos Centros Espíritas.
Vamos contar uma história muito própria para este tema: todos os obsessores deveriam ser canonizados e não canalizados, porque todos nós somos santos graças a eles, ah.. hoje perdi as estribeiras, porque o meu obsessor me fez fazer isso; então a culpa foi dele, porque eu não fiz nada, então ele me mostra que eu sou sempre uma pessoa boa, ele é o danado, mas como ele é um danado que me mostra o lado bom, então ele é bom também…Se todos pensassem assim, fazendo um breve parênteses, o obsessor é o elemento da natureza, acredito dos mais educados possíveis, porque nenhum obsessor entra em nossa casa sem pedir licença, vocês já perceberam isso? Se você está em oração, tranqüilo, em paz; ele quer entrar, pode derrubar telha, muro, ele não entra, ele só entra quando você dá licença; isto é uma droga, aí ele entra, já que você está abrindo a porta… É uma criatura extremamente educada, é fino, e nós gostamos deles, Tem pessoas que diz, eu tenho 38 obsessores, eu não sei como ela faz aquela conta, mas tem gente que tem as fichas; hoje é dia do 3 – 7 – 14…é um negócio sério, e as pessoas gostam, porque os obsessores lhe tiram a responsabilidade, e aí essa pessoa passa a perder o controle de si mesma e quem dirá da própria família…
As referências históricas à prática do Evangelho no Lar remontam à época de Jesus, conforme relato no livro Jesus no Lar, do autor espiritual Néio Lúcio. Lá é narrada a primeira dessas reuniões, quando o próprio Mestre, em casa de Simão Pedro, demonstrou-lhes a importância do Lar diante do Mundo:
Por que Jesus escolhia a cada de Pedro? Porque Pedro era o apóstolo que era casado, tinha filhos, esposa, e um exemplo belíssimo, morava com a sogra…mas todo mundo aqui gosta da sogra, não gosta? Quem gosta da sogra aqui levanta o braço…só? Vamos ver se gosta mesmo? Quem tem uma foto da sogra na carteira? Ninguém… Bem naquele tempo não tinham fotos, mas Pedro morava com a sogra, e depois que Jesus a curou de uma enfermidade, os laços se estreitaram ainda mais… A noitinha reuniam-se em família, junto os apóstolos, e aprofundavam nos assuntos, nos ensinamentos espirituais e morais…., porque durante o dia, com o povo, eram pessoas heterogêneas, então eram as parábolas, ensinamentos simples…
Certa noite, eles reunidos, a sogra de Pedro perguntou: Mestre por que é tão difícil a convivência doméstica? Um dia estamos bem, outro dia são as brigas, discussões, um dia são saudades, outros são as doenças, uma fase boa, uma fase de dureza, sem dinheiro…, e aí Mestre, diga-nos alguma coisa, explica-nos por quê?
Aí, Jesus respondeu com uma pergunta… Que você faz todos os dias com a lentilha que você serve nas refeições? Era hábito comer lentilhas nos lares do oriente, e foi de lá que vieram para o Brasil… A sogra de Pedro respondeu, eu ponho elas de molho, e depois as levo ao fogo e deixo lá por várias horas até que fiquem prontas… E o que você faz com a massa do pão que serve junto? Eu amasso bem e sovo, dizem as donas de casa que precisa sovar bem a massa, geralmente pensa no marido, para crescer o pão, não sei porque, tão bonzinho, devia fazer carinho na massa em vez de amassar…Aí, levo ao fogo, falou para Jesus, para que fique pronta não vou servir massa crua, vou servir o pão pronto, passa pelo forno…
Jesus lhe disse: a mesma coisa acontece conosco na convivência doméstica. Nós somos como as lentilhas, endurecidas, que precisam passar pelo fogo brando das experiências domésticas, aquele fogo simboliza o dia-a-dia da família, em que nós ao calor das lutas, ao calor do contato uns com outros, num regime de interdependências que nós vivemos no lar, nós vamos aprendendo a perdoar mais, aceitar mais, a deixar passar alguma coisa, a ouvir mais, e nesse calor das experiências e das lutas, nós vamos aprendendo a ceder, a respeitar, a amar mais, a estreitarmos os laços do coração, e assim vamos aprendendo verdadeiramente a amarmos aos outros…, porque essa é a finalidade da escola do lar, o lar é a escola da afeição, a escola do amor…
E a mesma coisa o pão, nós como a massa do pão, precisamos porque o lar é o forno preparador das almas, disse Jesus, então nas experiências do dia-a-dia nós aprendemos a amar as criaturas que estão a nossa volta.
E aí a sogra de Pedro não se deu por satisfeita, mas Mestre me diga então porque há criaturas que mesmo após anos de convivência doméstica, sai do lar brigadas, angustiadas, de cara amarrada; acontece isso às vezes, familiar que não fala mais com irmão, com o pai, com a mãe, por que acontece isso?
Aí Jesus devolveu novamente com a pergunta… O que você antes de servir a lentilha, você ainda faz uma última coisa, o que é? Ah… eu olho bem para ver se ainda não pego aquelas que ainda estão endurecidas, e tiro-as para que não machuquem a boca dos meus familiares e convidados… Eu pego essas lentilhas e jogo fora no monturo ( monturo era o lixo, como eram as comunidades naquela época, não tinham ruas, lixeiros, mas também não tinham lixo, não tinha plástico, vidro, papel, era só lixo orgânico. Abria a janela e jogava ali fora o monturo, o lixo, ao contato do sol e da chuva, acabava dissolvendo e absorvido pelo solo…
Jesus falou, assim acontece com as almas endurecidas. Se mesmo após anos de convivência no Lar, ela não cede de maneira alguma, serão mostradas a elas experiências necessárias para que elas amoleçam, no monturo da vida, assim como as lentilhas amolecem com o contato do sol e da chuva, essas almas amolecerão seu coração, com tais experiências, mas aí será Deus que enviará tais experiências, competirá a Deus e não a nós cobrar a postura de tal criatura…
E, para encerrarmos uma mensagem de Emmanuel:
O berço doméstico é a primeira escola e o primeiro templo da alma. A casa do homem é a legítima exportadora de caracteres para a vida comum. Se o negociante seleciona a mercadoria, se o marceneiro não consegue fazer um barco sem afeiçoar a madeira aos seus propósitos, como esperar uma comunidade segura e tranquila sem que o lar se aperfeiçoe? A paz do mundo começa sob as telhas a que nos acolhemos. Se não aprendermos a viver em paz, entre quatro paredes, como aguardar a harmonia das nações? Se não habituarmos a amar o irmão mais próximo, associado à nossa luta de cada dia, como respeitar o Eterno Pai que nos parece distante?